A Beth Carvalho me deixa deprimido. É fato! Ela me deprime! Essa manhã fiquei tentando descobrir os por quês desse efeito tão negativo e resolvi contar os resultados.
O Primeiro “porque” é porque é samba, sinto vergonha de gostar de samba, acho um horror quem gosta de samba e pagode (tenho vergonha de forró, sertanejo e axé também). Nenhum preconceito de classe, mas esse tipo de música costuma ser um enlatado repetitivo e hipnótico com uma função lúdica e distrativa. O rock e o reggae, que tanto gosto, também são assim. Mas, comumente eles tem um discurso mais engajado que o samba. É um argumento tolo, eu sei, mas me parece ser o único argumento para ter vergonha de gostar de sambas… Bom, não tenho um argumento para ter vergonha de gostar de samba, mas o fato é que tenho vergonha. Tendo vergonha de samba, me deprime gostar tanto da Beth Carvalho.
O segundo “porque” é mais simples. A Beth Carvalho canta com muita alegria e empolgação as melancolias do morro. Em geral histórias de muita garra, sofrimento (por amor ou pobreza) ou malandragens do povo,. São músicas escritas por pessoas muito simples, humildes, e a descrição dos sentimentos e situações vividas pelos personagens das músicas são muito claras e simples, fazendo com que seja possível quase reviver o que a música canta. Como essa vivência fica limitada ao que o samba canta, acabo ficando triste com o sofrimento e com a garra dessa gente sofrida (“gente sofrida????”, que coisa pequeno burguesa dito do alto do meu apê no água verde*!!!!!)
O terceiro “porque” não é tão infame quanto o primeiro nem tão simples quanto o segundo, tem um sabor meio brega e é o que mais me deprime. Os sambas de saudades que a Beth Carvalho canta me remetem diretamente a minha filha e a minha esposa. E, saudade, em mim, brota num simples afastamento (vamos cada um para o seu trabalho, por exemplo). Imagine depois de uma semana longe… Eu amo! E esses sambas cavocam meu peito como picareta!!! (brega, não?). Bom, mas hoje ninguém está longe, eu que sou uma mala sem alça…bonito, mas sem alça!!
O quarto e último “porque” é bacana, apesar de meio esquizofrênico, os sambas que cantam a mangueira, cantados pela Beth Carvalho, me remetem a um mundo que é muito presente na minha vida, mesmo sem nunca ter vivido, sem nunca ter conhecido ninguém de lá, só ter visto a mangueira na TV e do taxi com ar condicionado. Mas o que me deixa curioso é que esses sambas me remetem com tanta força para a vida naquele morro que é como se fosse um pedaço de mim que a tempos não encontro…
Em resumo: um Mané!
* Água verde é um bairro classe média alta de Curitiba (hehe, achando que alguém além da mamãe e do papai vão ler).
Se você soubesse
(na voz da Beth Carvalho)
Se você soubesse como estou sofrendo
Eu sei que na certa você ligaria pra mim
Se você soubesse como estou vivendo
Eu sei, na verdade você me diria sim
Se você soubesse somo estou agora
Eu sei que no sonho você deveria voltar
Um amor tão bonito, que me fez delirar e sonhar
Mantém essa chama que eu não desejo apagar
Seu retrato já escondi… não consigo esquecer
O meu sonho acordou te procurando, e você
Será que vai voltar pra mim e me fazer feliz
É o que eu tanto quero… o que eu sempre quis
O luar vai cobrir o azul deste céu que sonhei
Com seus raios brilhantes… como eu te amei
Olha, eu vou te esperar…
Pois um amor tão bonito não pode acabar
Eu só sei te sonhar…
Tua lembrança é tão linda, não quero acordar…
Se você soubesse…