O padre sempre se via cercado por suas ovelhas ao fim da missa. Vestidas comportadamente, longos vestidos, com mangas compridas, caprichavam no esvoaçar dos cabelos, realçavam seus olhares e perfumavam um mundo. O padre, repleto de caridade, com o coração nas alturas, mirava seus olhos no chão ou no céu e, sempre que podia, respirava pela boca. Mas, com ela, era impossível. Durante a missa, cada vez que os olhares do padre percorriam os fiéis, sentados ou em pé, ela ajeitava o cabelo, fazendo longos rodopios com eles entre os dedos da mão. Assim, não havia como o padre escapar de vê-la, mesmo que de canto de olhos, enchamegando-se enquanto ouvia o blábláblá do sermão. Pobre padre, acabava a missa e ele queria correr para longe de tanta tentação. Mas, antes que pudesse pensar, elas já o estavam esperando com mil dúvidas sobre Jesus, sobre comportamentos, beleza, etc.. A vida do padre tornara-se um verdadeiro inferno. Muitas vezes, durante a noite, jogavam pedrinhas em sua janela, chamando a atenção, para, la embaixo, se exibirem em rápidos e lânguidos desfiles. Outras vezes, tendo percebido a preferência do padre por uma fiel específica, passavam dias colocando cartas com fotos aterradoras da jovem madame. Uma paixão intensa e impossível, cercada de tentações aterradoras. Quando menino isso era tudo que o padre gostaria de ter tido. Muitas vezes, se olhava no espelho, sem entender o que acontecia. Continuava franzino, com a cabeça suavemente torta e dentes desalinhados. Com certeza, não havia mudado muito. Com certeza não havia ter, esse sucesso com as mulheres, relação com seu charme e esplendor inexistentes. De fato, a comunidade havia reparado que, depois que o padre chegou na paróquia, em poucos meses, a igreja passou a estar cheia, abarrotada na verdade. Senhoras, moças, garotas, todas atentas, suando na igreja quente. Em certa vez, ouvidos atentos, puderam escutar o padre gralhando com a velha faxineira: “se macumba existisse, feitiços se fizeram para perturbar meu celibato”. Um outro no boato no vilarejo afirmava que, antes da missa, a velha da faxina, benzedeira antiga na cidade, mas que, sempre soube lidar com seus próprios segredos, passava dendê na batina do padre. Mas, isso era boato de pessoas maldosas, pessoas com crendices tolas. Fato é, que as batinas nessa igreja, nunca ficavam tão limpas, tão bem quaradas e por tanto tempo de molho. Verdade ou mentira, o dendê do padre estava causando comoção na comunidade feminina da cidade. Não havia mulher que não suspirace para o magrelo e feio padre durante a missa. Passados 18 meses exatos, conheceu-se o primeiro filho atribuído ao padre. Nunca assumido, por óbvio. Mas, a comunidade, previamente avisada pelas boataria, não tardou a apelidar o menino de Dendê. Hoje em dia, dizem que o menino vai muito bem na escola. Chamam-no decentemente pelo nome que a morena e bela mãe lhe deu, José. Claro, menos no campinho, lá é Dendê mesmo.