Numa bela tarde de inverno, quando a neve teimosa e suave cai nos telhados que começavam a esbranquiçar, o trem chegou a estação. As portas automáticas se abriram com seu tradicional barulho de ar comprimido. Lá de dentro, saíram todos os passageiros destinados à pequena e melancólica estação: a senhora com sua longa e mal enrolada echarpe, o executivo com sua pasta preta, duas crianças gritando pelo direito de sair primeiro, claro, a mãe falando a celular e segurando todas as bagagens com uma mão só. Para a decepção do vento leve e gelado, ela, novamente, não desembarcou. Havia dias que, durante aquele horário, o vento soprava com um pouco mais de intensidade através da neve. Ele vinha a espera dela. E, novamente, ela não havia desembarcado. Triste, resolveu soprar em outras bandas, em algumas assobiando pelas frestas das janelas e, em outras, retumbando em ventarolas, fazendo as abrir e, lá dentro, jogando a gelada neve aos punhados. E agora, torcemos todos para que ela chegue logo, de preferência no próximo trem do fim da tarde, para que o vento, dela se enamore e leve seu gelos daqui.