Olha, estou avisando, enquanto ninguém estiver lendo, vou aproveitar para escrever com liberdade. Depois, vou seguir as tendências de mercado…

Mais um conto curto e infame:

Ela nunca acreditava nas histórias dele, considerava tudo uma grande desculpa esfarrapada. Agia de tal forma que parecia considerar todas as desculpas parte de uma só grande mentira. E, essa mentira era a vida dele. “Essa vida dele é uma mentira!”, dizia para si mesma, enquanto concordava com ele e lhe pedia desculpas pelas cobranças.

Era sempre a mesma coisa, futebol, baralho e bebida. Ela percebia a futilidade disso, mas não conseguia virar as costas e fugir. Achava que nem gostava mais dele, mesmo assim não conseguia ir embora. E quando ele se atrasava, demorava, não vinha, eram sempre as mesmas histórias “Futebol, bebida e baralho!”.

Ele trocava sua companhia por qualquer um dos três, bastava os amigos ligarem. “Vai ter um joguinho na casa de Ciclano!”, “Vamos assistir ao jogo na casa de Beltrano!”, lá ia ele, muitas e muitas vezes sem avisar, sem dizer aonde, largando compromissos agendados por ela há semanas. Casamentos, almoços, jantares. Ele nunca estava. Futebol, baralho e bebida.

O que mais irritava, era o fato de não conseguir reagir. Ela sabia que podia ir. As amigas apoiavam, a família torcia e as colegas de trabalho praticamente empurravam. Mas ela, ela não saía. Fica em casa, esperando por ele. Em geral com alguma comida, alguma bebida, tudo fresquinho. Feito enquanto remoia seu ódio e sua frustração. Tudo sempre gostoso e bem servido.

Quando ele chagava, ela fazia as cobranças devidas, fundamentadas em toda sua amargura e frustração. Ouvia sobre o futebol, sobre a bebida e o baralho e, depois, servia a comida na mesa arrumada, com um sorriso feliz.