Alguns pontos de vista são bastante curiosos. Normalmente, quando viajo, o novo mundo de experiências que me cerca é o que me envolve com descobertas e histórias.

Dessa vez, tenho me sentido um peixe no aquário. Aqui na região de Zurique, tenho alguns familiares suíços e alguns conhecidos e atuais amigos brasileiros. E, como não podia deixar de ser, o Brasil nesse momento é assunto. Entre os brasileiros que já estão aqui há mais de três anos, a surpresa com a batalha judicial e policial contra a corrupção é o assunto. Já sabiam há 4, 5, 6 anos, que teríamos uma recessão forte e, até por isso, optaram pela vida fora do país.

Veem o caos econômico através dos jornais locais (e aqui não tem meias verdades, para o noticiário Europeu o Brasil acabou, econômica e moralmente), mas ficam otimistas com com a possibilidade de justiça. Entre os brasileiros mais antigos por aqui, uma curiosidade intensa com o processo de construção da crise: “como fomos chegar a isso?”, “e o pré-sal?”, “qual o projeto de retomada?”. Para eles, até o período da Copa do Mundo, o Brasil era a Pérola Latina.

O susto com o caos da educação pública, a admiração com o abandono de Curitiba e a lástima em que se encontra o estado do Paraná. Cheguei a ouvir de um brasileiro: “ou eu saia do país ou iria pra Curitiba!!”. Mas, sim, mostrei o post com o mapinha da cidade e as 3900 ocorrências de chamados para atendimentos de moradores de rua.

Mas, o mais assustador, o mais intrigante, é a noção das relações de emprego.

Aqui existem contratos rígidos entre trabalhadores e empregados, mas os contratos podem variar, em si, em formato, tempo de dedicação e valor. Normalmente, eles tomam como base 42 horas semanais de trabalho. A partir disso, calculam 100%, e todas as variantes inferiores até 20%.

Ou seja, se você precisa de um garçom para 4 horas diárias, é possível fazer um contrato que dê suporte para essa relação. Outra coisa que assusta é a noção brasileira de segurança, estabilidade e conforto no serviço público. Aqui, diferente daí, os salários do funcionalismo público são regidos pelas condições de mercado, com contratos como o de qualquer trabalhador. Levando-se em conta as mesmas 42 horas semanais e suas frações.

Além disso, lugar de quem quer enriquecer não é no funcionalismo público. Cargos eletivos tem uma ajuda de custo ínfima, senão ridícula. Assessores?

No máximo uma secretária.

E, em geral, ela é funcionária da casa parlamentar e ajuda o eleito. Mas, nunca, jamais, indicada por ele. Funcionários públicos são os idealistas. E como aqui, o liberalismo impera, os funcionários públicos, em si, não querem pesar no orçamento do governo. Educadores, policiais, assistentes sociais, psicólogos sociais, advogados, juízes e administradores.

Em geral, esses são os cargos públicos. Todo o resto é iniciativa privada. Educadores (de professores a vigia do pátio) são todos rigidamente treinados e ganham excelentes salários. Juízes são acadêmicos (produtores de conhecimento) e ganham muito bem também. O sistema se serviço social, em geral, paga muito bem, varia um pouco de função. Mas é um salário super confortável para a cara vida suíça.

E, pasmem, quem trabalha com atendimento à população, principalmente, de risco, dificilmente terá contrato superior a 80% da carga semanal. A ideia é evitar a fadiga e manter a criatividade e a capacidade de acolhimento. Comentei com várias pessoas sobre a minha dupla jornada: professor e psicólogo clínico.

Comentei sobre a diferença de valores entre os dois rendimentos. Para os suíços foi bem difícil entender que a faculdade em que trabalho paga bem.

Aqui, professor, principalmente da rede pública, ganha quase tão bem quanto empresários e altos funcionários de bancos. Tudo isso, em meio a uma Suíça em recessão econômica.